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A História do Rapaz Alto e Tímido

Era uma vez, numa escola feita de cartão, um rapaz alto e tímido a quem chamavam “o desajeitado”. Chegava todos os dias à escola dobrado, amuado, amarrotado. Não dobrado de riso, antes dobrado como uma folha de papel. Diziam-lhe:

– Desdobra-te! Vais acabar por ter dores de barriga. Ou então:

– Que tímido que é este desajeitado!

O rapaz alto e tímido de papel só ouvia comentários sobre a sua timidez. Também lhe chamavam “simplório”, “fracote”, “mãos de cebola”, “menino da mamã”… Já não sabia ser outra coisa. Quando ouvimos “Que mau que ele é”, só temos vontade de ser maus. Quando ouvimos “Que medroso que ele é”, coramos até à raiz dos cabelos. Nunca ninguém o chamara pelo nome.

Diziam sempre: “Olha, lá vem o desajeitado” ou “Olá, grande tímido”. Como é que uma pessoa se desdobra? Ele bem tinha tentado, mas a sua coluna vertebral era demasiado pesada.

Mesmo que sejamos feitos de papel, é difícil. Quem lhe dera fazer como os outros.

Aqueles que parecem frisos, porque dão as mãos e ficam todos coladinhos.

Aqueles que sorriem e se desdobram como pedacinhos leves de papel, que voam e volteiam com o vento. Mas continuava dobrado. Na aula de Matemática, dobrava-se em dezoito, na aula de Português em envelope.

Durante o recreio, não passava de um quadradinho minúsculo franzido em noventa e oito partes. Quando tinha vontade de rir, levantava-se um bocadinho, mas esse movimento só durava três segundos.

Um dia, alguém disse-lhe:

– Ó grande desajeitado! Tenho a certeza de que te consegues transformar em chapéu.

O rapaz corou e dobrou-se ainda mais sobre si mesmo. Mas aconteceu que Lili, a despachada, ia a passar por ali naquele momento. A rapariga insistiu:

– Anda lá, transforma-te em chapéu. O que esperas para te transformares em tricórnio? Mostra um pouco de coragem…

Surpreendido, o rapaz tentou. Desdobrou um braço, depois o outro e, de repente, tinha-se transformado em chapéu de papel.

– Isso é genial! comentou Lili, a despachada. Tenta agora transformar-te em barco.

– Um barco? Nada de mais simples! disse o tímido, que esticou os braços o mais que pôde e fez da cabeça a proa de um navio.

– É incrível! exclamou o rapaz. Sinto-me tão bem a fazer de navio. A rapariga despachada aplaudiu.

– Estás a ver? És capaz de ser bem mais do que um tímido. O rapaz agradeceu-lhe e disse:

– Sinto que posso transformar-me numa tigela, numa cambalhota, numa banheira, num navio pirata, num pontapé no traseiro, e em mil e uma outras coisas.

Nessa noite, o grande desajeitado regressou a casa todo desdobrado.
Como a mãe ficou feliz!

Não chame “tímido” ao seu filho. Nunca diga, então, diante dele: “O meu filho é extremamente tímido, ou então, um rapaz alto e tímido.” O seu filho poderia convencer-se de que é realmente tímido e tentar ajustar-se à imagem que tem dele.

A criança, que ainda é muito vulnerável em termos de identidade, tenta tornar-se aquilo que os outros pensam dela.

Se o seu filho continua “agarrado às saias da mãe” e não sai com os amigos, talvez o pai possa falar um pouco com ele, sobretudo se se trata de um rapaz. Pode acontecer que pais muito solícitos reforcem a timidez e a inibição da criança. Se fizermos tudo por eles, de que forma podem os nossos filhos desenvolver a sua auto-confiança?

Talvez a falta de confiança do seu filho derive de uma insegurança afetiva. Ou então ele receie não ser amado incondicionalmente pelos pais. Quem sabe tenha ouvido comentários do estilo “Se continuares assim, deixo de gostar de ti.” ,“Se te tornares insuportável, mando-te para o colégio interno”.

Pode acontecer que pais muito dinâmicos, exigentes e dotados, aumentem a timidez dos filhos.

Fale com ele. Pergunte-lhe:

“Tens medo dos outros?”

“Será que gostarias de ir a casa das pessoas, de te abrir, de comunicar, mas, se o fizeres, pensas que vais ser rejeitado?”

“Tens medo do que possam pensar ou dizer de ti? Sabes, filho, não podemos agradar a toda a gente.”

“Pensas, às vezes, que não vais conseguir fazer determinada coisa, que não és suficientemente bom?”

Por fim, a verdade é que muitos dos nossos fracassos têm origem na nossa falta de confiança, não na nossa falta de capacidades.

(Site Historias para os mais Pequeninos)

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