As duas casas de Josefa: A campainha da escola já tocou. Começaram as férias. No recreio, Manuela, Carolina e Josefa falam do Verão que se avizinha. Qual delas irá ter as melhores férias? Quem irá ter a casa mais bonita entre as duas casas de Josefa?
– Este ano vou para a Bretanha — disse a Manuela. — Vamos andar de barco, e talvez façamos esqui náutico.
– Este ano passamos o Verão no sul de França − conta Carolina.
Josefa fica calada. Este ano, pela primeira vez, irá passar o Verão entre duas casas: a da mãe e a do pai.
A mãe decidira:
– Como o pai e eu já não nos entendemos e estamos sempre a discutir, irás passar este Verão em duas casas diferentes: a casa azul, do teu pai, e a casa amarela, a nossa.
Então a mãe acariciou docemente os cabelos de Josefa.
– Vou confessar-te uma coisa: apaixonei-me. Encontrei uma pessoa de quem gosto muito.
Então Josefa suspira e sonha. No ano anterior também ela podia dizer “Vamos. Vamos os três a Itália, a Roma.” Mas, este ano, tudo mudou.
Na casa amarela, cheia de sol, haverá risos e luz, paredes brancas, frescas e grandes, e pás em metal vermelho. E na casa azul? Um pai triste, livros, barcos, e vendedores de sonhos para ajudar a esquecer a mãe. Quando pensa nisso, Josefa fica com o coração pesado.
Carolina acorda-a do seu sonho.
– Mas e tu, Josefa? O que vais fazer este ano? Josefa sorri.
– Eu? Eu tenho muita sorte! Porque este ano vou passar as férias em duas casas. Primeiro, vou passar uns dias na casa azul, junto ao mar, na Grécia. Depois, apanho o avião e vou para a casa amarela, onde vive a minha mãe, que está de novo apaixonada. Por fim, vou conhecer uma nova amiga: a filha do namorado da minha mãe.
– Duas casas de férias! Dois aviões! Uma nova amiga! Tens muita sorte!
– Lá isso tenho — disse Josefa num tom de voz importante. — E sabem porque tenho ainda mais sorte? Porque faço coisas diferentes com cada um deles. Com a minha mãe, faço escalada, ando de bicicleta, e caço borboletas. Com o meu pai, ando de barco e faço canoagem. O meu pai é um verdadeiro marinheiro.
– Então tens mesmo sorte! A Josefa é quem tem mais sorte! — decretou a Carolina.
Josefa sorri. De fato, por que razão não seria ela a mais feliz?
Sonha então com a casa azul e com a casa amarela. E com as duas juntas. Josefa pensa que se misturarmos azul e amarelo ficamos com verde. Verde como a esperança. Mas ninguém pode tirar-lhe a casa verde que habita o seu coração e na qual Josefa adormece.
Depois de os pais terem decidido separar-se, chegam as primeiras férias passadas em sítios diferentes. A separação faz-se sentir mais nesta altura. Seja claro: se a situação de separação é definitiva, não dê aos seus filhos falsas esperanças. Se a separação não está ainda consolidada, não se admire com perguntas do tipo: “Quando vamos ver o pai/a mãe?”
Faça com que a comunicação entre os seus filhos e o pai/a mãe não se quebre.
Então deixe-os escrever cartas, postais, enviar mensagens de correio eletrônico, faxes, etc.
Não tenha ilusões quanto à forma como os seus filhos vão receber os novos companheiros dos pais. Evitem apresentá-los como “substitutos”. Como toda a gente, as crianças precisam de um tempo de adaptação.
Por fim, diga-lhe que a decisão de passarem férias separados não teve a ver com ele, que compreendem a sua tristeza. Assegure-lhe que não estará muito longe dele. Combine escreverem-se todos os dias, ou de dois em dois dias. Até podem fazer uma coleção de postais, com os desenhos dele sobre tudo o que descobrir em férias. Então, quando se encontrarem de novo, vão ter muito para contar.
(As duas casas de Josefa – Site Histórias para os mais Pequeninos)