Saci Pererê – Era uma vez dois garotos: Pedro e Hugo, que moravam no “Sítio Dona Benta” e estudavam na mesma escola. Tinham eles dez anos. Pedro era o mais estudioso, usava óculos e adorava ler; Hugo era o mais calminho, porém muito medroso. Eram amigos desde a infância, pois suas casas ficavam uma ao lado da outra desde sempre. Eram casas de barro, com cobertura de cipó. Apesar de simples, eram muito bem feitas e limpinhas.
Era um dia muito quente e o sol estava muito forte. Hugo, Pedro e o seu cão trilhavam o caminho da escola para casa. Os dois meninos carregavam consigo estilingues em seus bolsos.
Durante o caminho, quando passavam por um atalho no meio da mata, Pedro comentou com Hugo que havia perdido o seu livro favorito e não conseguia encontrá-lo. Hugo falou que isso devia ser coisa do Saci, que é um menino negro, que usa gorro vermelho na cabeça, cachimbo na boca, está sempre sorrindo e tem apenas uma perna. O amigo explicou ainda que o Saci vive pregando peças nas pessoas e escondendo os seus pertences.
Além disso tudo, ele é conhecido por defender a natureza com ajuda dos seus poderes mágicos.
“Tolice” disse Pedro. “Eu não acredito em Saci. Isso é história para crianças”. Foi quando um som surgiu da mata “ROAAAR! ROAAAR! ROAA- AR!”. “O que foi isso?” perguntou Hugo. “AU AU AU!” latiu o cão de Pedro. “Onçaaa!” gritou Hugo. E os meninos saíram correndo para as profundezas da mata.
Então de repente, os dois meninos tropeçaram em um cipó que estava esticado sobre a relva e caíram no chão. Ao levantarem, deram de cara com um menino negro, de uma perna só. Usava um gorro vermelho e fumava um cachimbo. Era o Saci! “Peguei vocês!” disse ele, rindo da cara dos meninos.
“Saci? É você?” perguntou Pedro muito surpreso ao vê-lo diante de seus olhos. “Eu sabia que ele existia!” exclamou Hugo impressionado.
“O que faz por aqui?” perguntou Pedro ainda não acreditando no que via. “Não tenho tempo para conversas. Notei que alguns pássaros, amigos meus, estão sumidos! Vocês estão por trás disso?” disse-lhe ele apontando para os estilingues que estavam nos bolsos dos meninos. “Não, senhor! Usamos os estilingues apenas para atirarmos em latinhas!” explicaram os dois.
De repente, outro barulho veio da mata. Um menino pequeno, de cabelos vermelhos como o fogo e pés invertidos, saltou então de uma moita. “Saci, encontrei os pássaros perdidos.
Eles estão presos aqui perto, próximo da Toca do Tatu Gigante!”.
“Obrigado, amigo Curupira, irei até lá!” respondeu o Saci. Os meninos não conseguiam acreditar no que viam! O Curupira! Foi então que uma forte corrente de vento começou a envolver o Saci, formando um redemoinho ao seu redor e fazendo-o flutuar! Era uma das magias do Saci.
Flutuando, o Saci foi ao lugar indicado. Ele logo encontrou as aves engaioladas e começou a soltá-las. Os meninos, que o seguiram correndo, chegaram depois e começaram a ajudar.
Quando estavam quase terminando de soltar as aves, algo começou a se aproximar do grupo. Era um homem, de cabelo comprido, usando um chapéu de caçador. Levava consigo um facão que usava para abrir caminho pela mata.
O homem parecia furioso. Seus passos pesados quebravam os galhos pelo caminho. Hugo, medroso por natureza, tentou se esconder entre as folhas de um arbusto, mas o homem o agarrou pelas costas e o ergueu. Em seguida ordenou “Parem de soltar as minhas aves!”.
Inesperadamente, o Saci sumiu.
Ficou invisível, diante dos olhos de todos ali presentes, que ficaram impressionados com o seu desaparecimento. “Apareça logo!” bradou o caçador, pedindo para que o Saci aparecesse.
“ROAAAR!” soou o feroz rugido de uma onça, assustando o caçador. Mas os meninos sabiam que aquilo era coisa do Saci e não se apavoraram! Neste exato momento, o cão de Pedro aproveitou a oportunidade e saltou em direção à perna do caçador para mordê-la.
“Cão atrevido!” gritou o caçador ferido e assustado. Foi quando ele fugiu, arrastando-se pelas trilhas da mata, para nunca mais voltar.
Então os garotos, já tranquilos, voltaram a soltar os pássaros e, como uma mágica, Pedro acabou encontrando o seu livro dentro da última gaiola.
Por fim, durante o trajeto de volta para casa, ainda impressionado com tudo que havia acontecido naquele dia, Pedro perguntou para si: “Será que voltaremos a encontrar o Saci? Ou será que tudo isso foi coisa da minha imaginação?”.
(Escrito por Merari Tavares)
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