Rapunzel: Era uma vez um lenhador e sua mulher que viviam tranquilos em sua modesta casa. Há muito tempo desejavam ter um filho. O tempo passava e aquele sonho ainda existia.
Num belo dia, a esposa do lenhador foi surpreendida e percebeu que finalmente estava grávida. Ela teria um bebê! Sentada nos fundos da varanda de sua casa, ela observava um lindo jardim, repleto de flores, frutas, legumes e ervas no quintal da vizinha. Porém, havia um muro muito alto que protegia toda a plantação. Além disso, aquela casa pertencia à bruxa que ali morava e era temida por todos.
Ainda espiando o lindo jardim, a mulher observou um lindo pé de rabanete. As folhas eram tão verdes e pareciam estar tão fresquinhas, que abriram o seu apetite. Naquele momento, sentiu um enorme desejo de prová-los, mas sabia que era impossível; ninguém podia escalar aqueles muros tão altos e invadir a propriedade da bruxa.
A cada dia seu desejo aumentava mais e mais, até que foi ficando com o semblante abatido, tristonha e foi adoecendo aos poucos. Preocupado, seu marido perguntou:
O que você tem, querida? Parece doente…!
Ah, querido! Há dias tenho observado aquele lindo pé de rabanete no jardim da bruxa. Suas folhas estão tão verdes… Se eu não comer uma salada de rabanetes, sou capaz de morrer! – disse ela ao marido.
Oh, minha querida! É isso que está te deixando tão abatida? Não se preocupe! Darei um jeito! – ele falou acariciando a cabeça de sua esposa, confortando-a.
E assim, muito preocupado com a saúde de sua esposa, o lenhador começou a pensar em uma forma de conseguir aqueles rabanetes, não podia deixar que sua esposa sofresse ou ficasse ainda mais doente. “Custe o que custar, eu vou dar um jeito!”, pensou.
Ao anoitecer, o lenhador colocou uma escada sobre o muro e terminou de escalá-lo, pulando do outro lado, no quintal da vizinha. Rapidamente, colheu um maço da planta cobiçada e levou para sua esposa.
Querida, veja o que trouxe para você! – falou ele animado.
Oh, meu amor! Que bom que conseguiu… Vou prepará-lo imediatamente.
Naquele mesmo momento, ela foi até a cozinha e preparou uma deliciosa salada de rabanetes.
Nossa! Está uma delícia! Hum… – falou ela enquanto ainda saboreava a salada.
No dia seguinte, a mulher acordou com o desejo ainda mais forte de comer rabanetes. Para tranquilizá-la, o marido prometeu que assim que anoitecesse, buscaria mais para ela.
Assim que o dia escureceu, o lenhador levou novamente a escada, colocou sobre o muro e o pulou. Correu até o jardim e foi até o canteiro apanhar outro maço de rabanetes. Desta vez, aproveitou que já estava lá e colheu uma quantia ainda maior que a outra vez.
– Aham! Muito bonito! Como se atreve a entrar no meu quintal e roubar a minha planta predileta? – perguntou uma voz irritada. Era a bruxa! Tamanho susto o homem levou ao vê-la bem ali parada à sua frente.
– Minha senhora, peço-lhe perdão! Não é por costume… – desculpou-se ele. — Minha esposa avistou os seus lindos rabanetes da varanda de casa e sentiu um desejo irresistível de comê-los. Ela está grávida! Por favor, eu lhe imploro, tenha piedade!
A bruxa abriu um leve sorriso astuto e falou:
– Já que é assim… Pode pegar quantos rabanetes você quiser!
– Oh! Muito obrigado, minha senhora! – agradeceu ele.
– Mas… Com uma condição!
O lenhador a olhou temeroso e falou:
– O que quiser, minha senhora!
– Você poderá pegar quantos rabanetes quiser, desde que me entregue a criança, quando ela nascer!
Apavorado, ele aceitou o trato. Meses depois, nasceu uma linda menina, seus olhos eram azuis bem vivos e seu cabelo, dourado. Como combinado, o casal levou a menina até a bruxa e a entregou.
– Ah! É uma linda menina! Seu nome será Rapunzel! – a velha falou encantada, assim que pegou a menina em seus braços.
Rapunzel cresceu sob os cuidados da feiticeira, tornando-se cada dia mais bela.
Quando completou doze anos de idade, a bruxa a levou para a floresta e a trancou numa torre bem alta, que não havia escadas nem portas, apenas uma única janela, sendo o único meio onde ela podia observar tudo o que havia ao seu redor.
Quando a velha desejava entrar, parava embaixo da janela e gritava:
– Rapunzel, Rapunzel! Jogue abaixo suas tranças!
A linda jovem tinha agora os cabelos bem compridos e finos como fios de ouro. Quando ouvia ao chamado da velha, rapidamente abria a janela e jogava as suas traças, que desciam os quarenta metros da torre. A bruxa se agarrava aos cabelos e escalava a parede de pedra.
Alguns anos depois, enquanto cavalgava pelo campo, o filho do rei, o príncipe Arthur, ouviu uma voz que entoava uma linda canção. Curioso, ele foi se aproximando com o seu cavalo até descobrir de onde vinha aquela doce voz. Ficou surpreso ao descobrir que ali, naquela torre, havia uma linda jovem que cantava de frente para a janela.
Era Rapunzel, que cantava para espantar a solidão. Imediatamente, o príncipe Arthur rodeou a torre em busca de uma entrada.
Procurou por toda parte, mas não encontrou. Aquilo o deixou inconformado e acabou voltando para casa. Porém, aquela linda voz tocou seu coração de tal forma, que ele passou a visitar a floresta todos os dias, apenas para ouvi-la.
E foi num desses dias que, sentado embaixo de uma árvore, viu quando a bruxa apareceu e gritou:
– Rapunzel, jogue suas tranças!
A jovem obedeceu e a velha subiu na torre.
“Hum… Então é por aí que ela sobe! Descobri o caminho!”, falou o príncipe consigo mesmo.
No dia seguinte, quando a noite chegou, ele gritou:
– Rapunzel, jogue suas tranças!
A moça repetiu o gesto que fazia desde os seus doze anos e levou um enorme susto quando se deparou com um belo rapaz à sua frente.
Entretanto, foi se acalmando conforme ele falava e lhe explicava o motivo de estar ali.
– Rapunzel, eu meu apaixonei por você no momento em que ouvi a sua voz. Quer se casar comigo?
Encantada com tudo o que estava acontecendo, ela aceitou o pedido de casamento e naquele momento eles fizeram um juramento: assim que o príncipe conseguisse tirá-la dali, eles se casariam.
Ansiosos para ficarem juntos, passaram a se encontrar todas as noites, sempre pensando numa forma de saírem dali. Até que um dia Rapunzel teve uma ideia e pediu para que ele trouxesse um novelo de seda, sempre que viesse visitá-la, pois assim, ela poderia tecer uma escada e ir embora com ele.
Dias depois, numa das visitas, a bruxa encontrou o capuz que o príncipe esquecera em cima da cama. Ela ficou furiosa com aquilo.
– Você vai pagar caro por isso! Você se encontrou com um rapaz…! – vociferou a bruxa que, no momento de fúria, cortou as tranças de Rapunzel e as prendeu num gancho da janela. Em seguida, levou a jovem até o deserto, onde a abandonou.
Quando o príncipe veio e chamou por Rapunzel, a malvada deixou as tranças caírem para fora e ficou esperando. Quando o jovem subiu foi surpreendido por ela:
– Veio buscar sua amada? Ela nunca mais cantará! PLIM!
A bruxa jogou um feitiço sobre o príncipe que o deixou cego. Desesperado e com muito sacrifício, ele tateou a parede até que finalmente conseguiu descer a torre. A bruxa nem se importou.
O príncipe caminhou por muitos anos naquela floresta, triste pela perda de sua amada. Até que, certo dia, ouviu o som de uma bela canção, que o levou ao deserto, onde Rapunzel vivia. Com muita dificuldade a encontrou. Ela o reconheceu imediatamente e se atirou em seus braços, derramando duas lágrimas sobre os olhos dele.
Então naquele mesmo instante, o príncipe recuperou sua visão e contemplou ali a sua amada. O reencontro foi lindo.
O príncipe Arthur voltou enfim para o palácio, onde se casou com Rapunzel em uma belíssima festa. Naquele mesmo palácio, viveu ao lado de sua amada esposa e seu lindo casal de gêmeos, que nasceram anos depois e viveram felizes para sempre!
(Escrito por Merari Tavares)