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Quando Eu Tinha Medo do Escuro

Quando eu tinha medo do escuro, o dia chegava ao fim. À noite, portanto, a mamã diz ao Roberto:

– Anda! Já são horas de dormir.

– Já?

Então Roberto arrasta-se pela escada acima.

– É feio lá em cima. Está muito escuro e há monstros escondidos.

– Não há monstro nenhum — diz a mamã. — Vou deixar a luz acesa no patamar. E deixo também a porta entreaberta. Boa noite, querido.

“Não serve de nada”, murmura Roberto, “eles vêm sempre.” Crac!

“De onde vem este barulho então? De certeza que é do armário.”

Portanto, agarrado ao cobertor, Roberto olha e volta a olhar para o armário.

Parece-lhe que ele está a mexer-se. Sim, e a transformar-se!… Tem umas patas com umas garras enormes!

Roberto então olha para o cortinado. Oh, não! Também começou a mexer-se. Há qualquer coisa por detrás. Mas parecem serpentes! Lentamente, Roberto vira a cabeça para a cadeira. Também ela está a transformar-se.

– Ursinho, estás aí? — pergunta Roberto num fiozinho de voz. Mas o Ursinho não está na cama. Está ao fundo, a dormir em cima da arca.

– Não saias daí, Ursinho. Então eu vou buscar-te.

Roberto chama a si toda a coragem e sai da cama. Contanto que não calque nenhuma serpente!… Aquele pântano devia estar cheio delas…

– Coragem, Ursinho, estamos quase!

Então com um salto, Roberto volta a meter-se na cama e levanta o cobertor.

– Depressa, vamo-nos esconder!

– Mas esconder? — pergunta o Ursinho. — Mas porquê?

– Por causa dos monstros! — grita Roberto. O Ursinho sorri.

– Queres que te conte um segredo? Ouve. Deitas-te muito sossegado, pegas em mim e apertas-me contra o teu peito. Fechas os olhos e vamos os dois contar muito devagarinho. Vais ver que eles desaparecem.

Roberto então deita-se e agarra-se ao Ursinho.

Com os olhos fechados, conta lentamente… seis… sete… oito… nove… abre os olhos e…

– Afinal isto dá resultado!! — murmura ele ao ouvido do Ursinho.

– Claro! Dá sempre resultado. E agora vamos dormir.

Mireille d’Allancé Quando eu tinha medo do escuro Paris, L’école des loisirs, 2002

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