Era uma vez um menino que ganhou de presente, no dia do aniversário, uma caixa cheia de soldadinhos de chumbo. Todos eram idênticos, com uniforme colorido, armas nas mãos e postura firme, como se estivessem prontos para marchar em batalha.
Mas havia um soldadinho diferente: ele possuía apenas uma perna, pois o chumbo havia acabado no momento em que foi moldado. Ainda assim, mantinha-se ereto e orgulhoso, mais firme que todos os outros.
O menino arrumou os brinquedos sobre a mesa e, entre eles, colocou um castelo de papelão, dentro do qual vivia uma linda bailarina de papel. Ela estava em pé, com um vestido leve e brilhante, e mantinha uma das pernas levantada, como se dançasse sem parar. O soldadinho de uma perna só a olhou e pensou que ela também tinha apenas uma perna, assim como ele. Naquele instante, apaixonou-se em silêncio.
Quando todos dormiram e a casa ficou em silêncio, os brinquedos ganharam vida. Os outros soldados marcharam, os bonecos se moveram, mas o soldadinho permaneceu firme em sua posição, admirando a bailarina. Um duende travesso que também vivia na caixa percebeu o olhar do soldadinho e, enciumado, disse: “Não ouse olhar para ela, soldado de chumbo. Ela não é para você”. Mas o soldadinho, silencioso, não desviou os olhos.
Na manhã seguinte, alguém abriu a janela, e um sopro de vento forte derrubou o soldadinho da mesa. Ele caiu do lado de fora e rolou pela calçada até cair em uma sarjeta. Dois meninos que passavam o encontraram e, rindo, o colocaram em um barquinho de papel para navegar pelo esgoto da rua.
A pequena embarcação seguiu corrente abaixo, enfrentando curvas, escuridão e até ratos enormes que tentaram barrar seu caminho. O soldadinho, mesmo com medo, permaneceu firme e corajoso, como um verdadeiro herói.
A corrente o levou até um rio, onde o barquinho virou e afundou. O soldadinho pensou que aquele seria seu fim, mas um grande peixe o engoliu. Dentro do escuro estômago do animal, ele continuou imóvel, como sempre fazia, aceitando seu destino. Mas o acaso ainda lhe reservava uma surpresa: o peixe foi pescado e levado justamente para a cozinha da casa onde o menino morava. Quando a cozinheira abriu o peixe, encontrou o soldadinho e o levou de volta para a mesa de brinquedos.
De volta ao lugar de onde havia saído, o soldadinho avistou novamente a bailarina, tão bela quanto antes. Seu coração, se tivesse um, teria se enchido de alegria. Mas o destino foi cruel. Uma das crianças pegou o soldadinho e, sem pensar, o atirou no fogo da lareira.
Enquanto as chamas o consumiam, ele manteve a mesma postura firme de sempre, sem soltar um som, olhando fixamente para a bailarina. Então, um vento repentino fez com que ela também fosse levada para o fogo. Juntos, eles desapareceram nas chamas.
Na manhã seguinte, quando as cinzas foram varridas, encontraram apenas um pequeno pedaço de chumbo em forma de coração e a estrelinha dourada do vestido da bailarina. Assim terminou a história do soldadinho de chumbo, que, mesmo diante das maiores dificuldades, manteve-se fiel, corajoso e apaixonado até o fim.