No fundo do mar existia um maravilhoso reino em que vivia uma linda, delicada e pequena sereia chamada Naria, carinhosamente apelidada de Pequena Sereia. Desde criança, ela era fascinada pelo mundo dos humanos, sempre querendo aprender mais e mais sobre como eles viviam. Seu pai, porém, havia proibido qualquer contato com os humanos. Ele sempre a dizia:
– Cuidado minha filha, os humanos comedores de peixes são muito perigosos!
Em um belo dia, Naria estava nadando com seus amigos quando ouviu uma alegre música vindo da superfície. Curiosa, ela nadou até o local e descobriu que a música vinha de um navio onde acontecia uma grande festa. Observando mais um pouco, a Pequena Sereia percebeu que tratava-se de uma comemoração de aniversário para o príncipe do reino dos humanos, o príncipe Erik. A festa estava muito animada e todos cantavam e dançavam.
A alegria da festa foi interrompida quando, de repente, o céu escureceu e se encheu de nuvens e trovões.
Era uma perigosa tempestade que se iniciava! Grandes ondas começaram a sacudir o navio, causando desespero entre os tripulantes. Na bagunça, o príncipe acabou tropeçando e caindo dentro do mar. Por sorte, Naria, que observava tudo de longe, mergulhou para salvá-lo e o levou à beira da praia. O jovem rapaz estava a salvo, porém desacordado.
A sereia, preocupada, passou a noite inteira cantando para ele. Ela estava encantada com a beleza do príncipe. De manhã, quando Erik despertava, Naria ouviu o barulho de pessoas que se aproximavam. Logo, soube que as pessoas vinham para resgatar o seu querido protegido. Assustada, pulou de volta no mar e ficou escondida atrás de uma pedra, enquanto o príncipe era carregado de volta para o palácio.
Naria voltou para casa, mas não conseguia parar de pensar no príncipe. Ela daria tudo para poder viver com ele no reino dos humanos! Mas sabia que seu pai jamais iria deixar isso acontecer. Os dias passavam e o sentimento permanecia forte em seu coração. Foi então que decidiu procurar sua tia, a bruxa dos mares, para lhe ajudar.
Quando chegou a gruta da sua tia, a bruxa a recebeu e ouviu o que ela tinha a dizer.
Por fim, ofereceu um acordo: faria um feitiço para transformar a sereia em humana por três dias. Se ao fim do terceiro dia o príncipe se apaixonasse por ela, continuaria como humana para sempre. Mas se isso não acontecesse, voltaria a ser sereia e também se tornaria prisioneira da bruxa, obedecendo a sua vontade pela eternidade. Havia também mais uma condição: a bruxa tomaria a sua linda voz e a guardaria dentro de uma concha.
Cegamente apaixonada, Naria aceitou o acordo. Com isso, a bruxa tomou a bela voz da sereia, guardando-a em uma concha, e transformou a sua cauda em duas pernas. Então, ela levou a sereia para a beira da praia e lhe disse:
Lembre-se, você tem apenas até o pôr do sol do terceiro dia para conquistar o príncipe. Ou então, a sua liberdade será minha!
Naria, que ainda não estava acostumada com as suas pernas e a respirar o ar da superfície, caiu exausta na areia.
Naquele mesmo dia, o príncipe Erik caminhava pela praia.
Fazia isso todos os dias, tentando encontrar a moça da linda voz que o havia salvo. Para a sua sorte, finalmente acabou encontrando a jovem sereia deitada na areia e foi correndo ajudar. Ao observá-la melhor, o príncipe ficou encantado com a sua beleza. Quem sabe não era essa a moça que ele estava há tanto tempo procurando?
Mas quando o príncipe perguntou quem ela era, percebeu que ela não tinha voz, ficando muito decepcionado. Mas a moça precisava de ajuda, assim ele resolveu levá-la para o palácio. Lá, ela comeu, tomou banho, trocou suas roupas e descansou.
Após descansar também, o príncipe visitou Naria em seu quarto e a convidou para passear pelo reino. No resto daquele dia, e no dia seguinte, os dois passaram bons momentos juntos. Parecia que, aos poucos, o príncipe estava se apaixonando pela sereia.
A bruxa dos mares, que estava acompanhando todos os passos da Pequena Sereia através da sua bola de cristal, começou a ficar preocupada. Ela queria Naria como sua prisioneira.
A bruxa, então, se transformou em uma bela donzela e foi até a superfície, levando consigo a voz da Pequena Sereia.
A feiticeira sabia onde encontrar o príncipe, pois, nos finais das tardes, ele ainda continuava a procurar a sua donzela misteriosa na beira da praia. Ao chegar lá, a bruxa cantou uma bela canção com a voz da Pequena Sereia, enfeitiçando o príncipe que, por sua vez, logo a pediu em casamento.
No dia seguinte, a notícia logo se espalhou pelo reino. Naria estranhou que o príncipe não havia aparecido para vê-la pela manhã. À tarde, quase morreu de tristeza quando soube por uma camareira que seu príncipe iria se casar com outra moça. O casamento estava programado para acontecer naquele mesmo dia, em pouco tempo, no próprio navio do príncipe.
A sereia, chorando, saiu do seu quarto em direção ao jardim e, para sua surpresa, viu uma jovem, vestida de noiva, cantando pelos corredores do palácio…com a sua voz! Ela logo entendeu que quem se casaria com o príncipe era a bruxa disfarçada. Naria precisava impedir aquele casamento!
A festa aconteceria em pouco tempo, por isso ela precisava agir rápido.
Além disso, teria que ir a pé porque não havia sido convidada. Sem pensar duas vezes, começou a correr em direção ao porto.
Assim que chegou, a sereia entrou escondida no navio onde a festa já havia iniciado. Não foi fácil chegar até o local da cerimônia. O navio era muito grande e muitas pessoas estavam presentes. Por fim, avistou o príncipe e a bruxa no altar. Mas ela ainda precisava chegar mais perto porque tinha perdido a sua voz. Quando Erik estava prestes a beijar a bruxa, Naria se colocou em frente ao altar, ajoelhou-se e implorou, apenas com gestos, para que parassem o casamento.
Mas já era tarde demais. O sol estava se pondo, era o fim do terceiro dia e as pernas da sereia voltaram a ser uma cauda. Os convidados ficaram espantados! A bruxa também se transformou de volta à sua velha forma e pulou no mar, levando consigo a Pequena Sereia.
O rei Netuno, que já havia descoberto todo o plano da bruxa, foi até à sua caverna para oferecer um acordo: sua coroa pela liberdade de sua filha. A bruxa, sorridente, aceitou o acordo e usou todos os seus novos poderes para ficar gigantesca. Seu desejo sempre foi destruir o reino dos humanos e fazer com que todos fossem seus escravos, agora ela tinha o poder para fazer isso.
Logo, a bruxa provocou o pânico no porto, destruindo navios com as próprias mãos.
Mas o corajoso príncipe Erik, livre do feitiço, resolveu agir. Ele precisava salvar o seu reino e a sua verdadeira amada.
Com muita coragem, o príncipe conduziu seu barco em direção à bruxa e quando chegou perto o bastante, atirou com o arpão em direção ao seu coração. O tiro foi certeiro. Imediatamente a bruxa perdeu seus poderes e virou espuma do mar.
Todos os seus prisioneiros ficaram livres e as pessoas do porto comemoraram o fim da batalha.
O rei Netuno emergiu até a superfície e agradeceu ao príncipe por salvar a todos. Daquele dia em diante, pela primeira vez, ele passou a confiar nos humanos.
Quando recuperou a sua coroa e os seus poderes, Netuno transformou Naria em humana para sempre. Ela finalmente poderia viver no reino dos humanos com o seu príncipe amado.
Os reinos, dos humanos e dos mares, agora estavam unidos, trazendo assim uma nova era de prosperidade e alegria.
(Escrito por Julia Magnoni)