Estávamos a meio de noite barulhenta e o Ratão dormia profundamente na sua grande cama. O Ratinho estava ainda acordado na sua caminha.
-“Ratão! Ratão!” chamou o Ratinho. “Estou a ouvir alguma coisa lá fora a uivar e a soprar.”
O Ratão abriu um olho e um ouvido. “É apenas o vento” disse ele. “Posso ir para a tua cama?” pediu o Ratinho. “Não,” disse o Ratão. “Não há espaço para os dois.” Virou-se para o outro lado e voltou a adormecer. O Ratinho ficou deitado a ouvir o vento. Mas, de repente, por entre um uivar e um sopro, ouviu um…
TOC TOC TOC
O Ratinho desceu da cama, abriu a porta — mas só um bocadinho —, e espreitou lá para fora.
UUUuuu! continuava o vento, mas não viu ninguém lá fora.
“Ratão! Ratão!” chamou o Ratinho. “Estou a ouvir passos. Talvez esteja um ladrão no telhado.”
O Ratão então levantou-se da cama e abriu as cortinas do quarto. “Olha,” disse ele, “é apenas um ramo a bater na janela. Volta para a tua cama.”
“Mas não posso ir para a tua?” perguntou o Ratinho. “Não,” disse-lhe o Ratão, “tu mexes-te muito”.
O Ratinho então ficou deitado na sua cama a ouvir o uivar do vento e o to- c-toc do ramo a bater, quando alguém chamou,
“TUUUUUU! TUUUUUU!”
Por fim, o Ratinho levantou-se outra vez. Desta vez foi espreitar debaixo da cama. Depois foi ver no armário e, sentindo-se muito assustado, gritou: “Ra- tão! Ratão! Penso que há um fantasma cá em casa, e anda à minha procura. Está sempre a chamar, tuuuuu, tuuuuuu!”
O Ratão suspirou e sentou-se na cama à escuta. “E apenas um Mocho,” disse o Ratão, “também está acordado, como tu.”
“Posso deitar-me na tua cama?” perguntou o Ratinho. “Não,” respondeu o Ratão, “as tuas patas estão sempre frias.” E então o Ratão meteu-se debaixo dos cobertores e voltou a adormecer. Logo, porém, o Ratinho voltou para a cama e ficou ali deitado a ouvir o vento a soprar, o ramo a fazer toc-toc e o mocho a piar.
Mas… chhhiu!
Que barulho foi este?
“Ratão! Ratão! Estou a ouvir pingar. É um pinga-pinga. Deve estar a chover cá dentro.”
Mas o Ratinho saltou da cama e foi buscar o seu chapéu de chuva vermelho.
O Ratão levantou-se também da cama. Abriu a porta de casa e disse: “Cala-te, vento. Não faças barulho, ramo. Canta mais baixo, mocho.” Mas nenhum lhe deu atenção. Então o Ratão foi até à cozinha, fechou a torneira que pingava e arrumou o chapéu de chuva.
“Posso ir para a tua cama?” pediu o Ratinho.
“Não, ficas mais confortável e quentinho na tua própria cama, disse o Ratão, enquanto o levava ao colo para o quarto.
O Ratinho ficou deitado na cama a ouvir o vento a uivar, o ramo a fazer toc-toc e o mocho a piar. E quando já começava a sentir muito sono, ouviu de repente…
“ROOONC, ROOONC; ROOONNC!”
“Ratão! Ratão!” chamou o ratinho. “Estás a ressonar.”
Cansado, o Ratão levantou-se. Pôs os seus tapa-orelhas nos ouvidos do Ratinho.
Pôs um clip no seu próprio nariz e voltou para a sua cama.
O Ratinho, por fim, deitou-se e ficou a escutar… Nada! Estava tudo muito, muito, muito silencioso. Não conseguia ouvir o vento a uivar, nem o ramo a fazer toc-toc na janela, nem o mocho a piar e nem sequer o Ratão a ressonar. Estava tudo tão silencioso que o Ratinho sentiu que estava sozinho no mundo.
Tirou o tapa-orelhas dos ouvidos. Levantou-se da cama e tirou o clip do nariz do Ratão.
“Ratão! Ratão!” gritou, “sinto-me muito só!”
Então o Ratão afastou os cobertores.
“Está bem, vem lá para a minha cama,” disse ele. Então o Ratinho deitou-se junto dele. As suas patinhas estavam muito frias… e precisou apenas de umas poucas voltas na cama para adormecer profundamente.
O Ratão ficou ali deitado a ouvir o vento a uivar, o ramo a fazer toc-toc, mocho a piar e o Ratinho a fungar, e, pouco depois, ouviu os pássaros a acordar. Mas nem o Ratinho nem o Ratão ouviram o despertador tocar…
PORQUE ESTAVAM OS DOIS A DORMIR PROFUNDAMENTE!
Diana Hendry Uma noite barulhenta
Lisboa, Minutos de Leitura, 2001